Como falar com a criança sobre a morte?

Denise C. Rolo

Denise C. Rolo

Dedica-se atualmente à prática de clínica privada com intervenção centrada nas áreas da infância, adolescência e parentalidade.

O difícil tema da morte

Se para os adultos falar e lidar com o tema da morte é difícil por si só, mais difícil se torna quando chega o momento de falar sobre o mesmo com as crianças.

Para abordar o tema de hoje, apresento-lhe algumas estratégias de comunicação facilitadoras nestas situações e, para tal, os assuntos tratados serão:

Validar os sentimentos da criança

Na sequência da morte de uma pessoa próxima, a criança tende a questionar os pais se vão morrer também, assim como ela. É importante que os pais ou familiares de referência assegurem à criança a liberdade de perguntar o que desejar, além de outras pessoas com as quais poderá, também, falar sobre o assunto. Entre elas:

Pais/Familiares de referência

Um amigo

Um Professor

O Psicólogo da Escola

Entre compreender e sentir

“O sofrimento e a dor não têm a ver com a nossa capacidade para compreender mas sim com a nossa capacidade para sentir.”

A dor não se compreende. A dor sente-se. É na validação das emoções da criança que a comunicação deverá basear-se. Auxilie na identificação das suas próprias emoções, recorrendo ao questionamento através de imagens das expressões faciais, por exemplo, facilitando a sua verbalização.

Nota: Se a criança não referir nenhuma das emoções, incentive-a a escrever ou a desenhar aquilo que está a sentir.

As perguntas da criança

"É errado chorar?"

Os pais, numa atitude protetora, optam por fingir que nada aconteceu, o que dificulta a compreensão da criança sobre as suas próprias emoções. Normalize os sentimentos e que chorar é perfeitamente normal, ajudando inclusivamente a lidar com as emoções.

"A culpa é minha?"

Perguntas como “Morreu porque eu me portei mal?” são comuns por parte da criança. Assegure-lhe que quando alguém morre, a culpa não é dela. Repita-o as vezes que forem necessárias.

"Vou voltar a sentir-me bem?"

Explique à criança que as emoções são como ondas e que mesmo não havendo uma fórmula mágica para se sentir bem, há coisas que pode fazer: caminhadas, conversar ou manter um diário.

"É errado divertir-me?"

Assegure à criança que manter as suas atividades preferidas é uma forma de se sentir melhor e mais capaz de lidar com a nova situação que vive.

“O que é um funeral?”

Explique e contextualize o funeral como uma cerimónia onde todos os familiares e amigos podem relembrar e falar sobre a pessoa que morreu. Permita à criança, se for o seu desejo, que esteja presente. Caso não seja possível (pela idade ou circunstância), incite-a a fazer um desenho ou a escrever uma memória bonita sobre a pessoa.

“Como honrar e relembrar a pessoa?”

Diferentes famílias têm diferentes formas de honrar e relembrar pessoas falecidas. Explique à criança a diversidade de tradições dando exemplos tais como rezar, mediante a religião de cada um, acender uma vela, incenso, entre outras que se coadunam com os valores e tradições da família.

Estratégias de comunicação

Frases que devem ser evitadas

Os adultos deverão ter em conta a importância das respostas claras, garantindo à criança uma boa gestão das suas emoções e a integração daquela situação na sua vida.

Assim, evite frases como:

“As coisas vão melhorar.”

“O tempo ajuda a curar.”

“Vai correr tudo bem.”

“Amanhã já volta curado.”

“Vais ultrapassar isso.”

“Não chores mais, anima-te!”

“Estava destinado a acontecer.”

“O tempo curará tudo.”

Lembre-se do mais importante:

responda sempre às perguntas da criança de forma simples, clara e verdadeira.

Referências bibliográficas:
Moura, A. “A Educação da Criança”, São Paulo: Livros Horizonte, s.d.
Romais, T. “What on earth do you do when someone dies?”, New York: Free Spirit Publishing, 2003

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