Lidar com as zangas entre irmãos

Denise C. Rolo

Denise C. Rolo

Dedica-se atualmente à prática de clínica privada com intervenção centrada nas áreas da infância, adolescência e parentalidade.

E, de repente, há uma "guerra" em casa!

As discussões entre irmãos são inevitáveis. A boa notícia é que não têm de se transformar numa guerra sem dimensão.

A forma como lida com as discussões entre os seus filhos, é o exemplo que ambos vão obter e que acabará por se refletir nas suas competências sociais.

Esta é uma temática muito abordada e solicitada no seio familiar. Analisarei três pontos essenciais a uma melhor compreensão:

  • A postura dos pais;
  • Estratégias para lida com o conflito;
  • O segredo para o sucesso na gestão do conflito

1.A postura dos pais

Há um importante pormenor transversal em todas as discussões e zangas entre os mais pequenos e que devo ser tido em conta logo de início:

Nunca tome partido!

Durante os conflitos entre irmãos, é importante que os pais se mantenham neutros e que façam sugestões apenas se um dos filhos não colaborar de todo. Tomar partido leva a ressentimentos e ao sentimento de favoritismo.

2. Estratégias para lidar com o conflito

Acalme todos os envolvidos

Intervenha antes das emoções escalarem sem controlo. Encontre a melhor estratégia para que acalmem: uma série de respirações profundas, deitarem-se no chão por uns breves minutos ou abraçar um urso de peluche, mediante a idade.

Por exemplo:

"Vejo duas crianças muito zangadas que precisam de acalmar um bocadinho. Vão para o quarto refletir no que está a acontecer e quando se sentirem mais calmos, voltem para que possamos, todos nós, falar calmamente."

Clarifique sentimentos

Valide os sentimentos das crianças, por exemplo:

“Tu estás triste/magoado/zangado porque sentes que o teu irmão está a ser tratado de melhor forma do que tu, será isso?” ou em alternativa:

“Sinto que estás frustrado porque não tiveste a tua vez de jogar na consola.”

Ouça ambas as posições

As crianças precisam de sentir que estão a ser ouvidas. Peça a cada uma delas para explicar a sua versão do ocorrido na condição de focar a atenção em quem está a falar, esperando a sua vez. Nenhuma interrupção é permitida e todos têm a sua vez. Se não compreender a explicação, peça à criança que reformule, pedindo para explicar melhor.

Faça das crianças parte da solução

Questione as crianças sobre um plano conjunto para resolver a questão. Fazer das crianças parte da solução permite fazê-los pensar e acalmar. Defina um conjunto de regras para este momento: falar com calma, não interromper o outro. Tendo oportunidades distintas para falar, as crianças aprendem a expressar os seus pontos de vista com palavras e não com empurrões.

... e por fim...

Promova a empatia

Incitando ambas as crianças a colocarem-se no lugar da outra está a promover a empatia e uma perceção mais afinada dos sentimentos. Para tal, questione: “Ajuda-me a tentar ver esta questão por outro lado. Como será que o teu irmão se sentiu?”

3. O segredo na gestão do conflito

Autonomize a criança na gestão dos próprios problemas

O estudo dos psicólogos George Spivack e Myrna Shure concluiu que as crianças que são estimuladas a resolver os seus problemas tendem a ser menos impulsivas e agressivas quando alguma coisa não decorre da forma desejada. Tendem igualmente a ser mais empáticos e com maior capacidade para fazer amigos, melhor rendimento escolar e capacidade acrescida de resolução de problemas de forma pacífica e empática.

Autonomizar a criança na gestão do conflito promove um sentido de responsabilidade acrescido de valor próprio. Sente que tem um lugar no seio familiar e voz para expressar o que sente, sem se sentir rejeitada.

Referências bibliográficas:
Nelsen, J., Lott, L. “Positive Discipline for Teenagers”, New York: Three Rivers Press, 2000
Borba, M. “No more misbehavin’”, New York: Jossey-Bass, 2003

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